No meu tempo de menina tudo era mais simples. Não podíamos –
e nem pensávamos (tsssssss....não expúnhamos) – ter frescuras para comer, para
vestir, para brincar, para acordar, para dormir, para comer...e a vida assim
seguia. Por vezes, as quebras de rotina se tornaram os momentos eternizados em
nossas memórias. E não por acaso, sempre estão ligados às refeições, em sua
maior parte, compostas por ingredientes preteridos até os dias de hoje, que se
multiplicam em seus sabores, logo, apresentações e texturas.
Nacos de alguma parte de porco ou de galinha estão entre os insumos
principais, afinal, em quintais vizinhos sempre havia um exemplar de um dos animais
pronto para o abate. No caso das galinhas, os ovos também eram cobiçados. Por
isso, correr em meio à ‘pintaiada’, encontrar um ovo com gema dourada brilhando
no prato (à hora reservada ao almoço) ou, ainda, uma canja de frango novo, com
caldo marrom, fumegando sobre o fogão à lenha (no jantar, na casa da avó), era
lugar comum. “Nem dava tempo de deixar crescer. Eram tão pequenos que a vó pedia para jogarem milho nos pés para que vocês mesmo pegassem os bichos”. Depois de uma torcidinha rápida no pescoço, lá estávamos nós, rodeando a fogueira, cada uma despenando um naco do que seria nosso jantar, que incluía o galináceo cortado e seus miúdos.
Este já é
um caminho, mas a tradição há de
perpetuar. No mais, por vezes, sem a mesma pompa que uma verdadeira canja se faz merecedora, tenho elaborado Canja de Bacalhau, com os nacos adquiridos já
desfiados. Basta dessalgar e a delícia preparar!!!
Canja tradicional, à moda da vó Maria
Ingredientes
- 1 frango
caipira inteiro, cortado pelas juntas
- 3 cebolas picadas
- alho o q/b (uso 4 ou cinco dentes picados grosseiramente
- duas folhas de louro fresco – que na Vila Ida há uma
árvore sendo cultivada pela Luzinha e pela Sil
- flores de manjericão fresco
- 1 galho de alecrim com as folhinhas moídas
- azeite de oliva para temperar a ave e ainda, para dourar
- 1 colher de sopa de açúcar mascavo
- sal
- 1 Pimenta dedo-de-moça bem picada
- 1 Cenoura ralada
- ½ xícara de arroz branco
- Verde picado (bastante salsinha e cebolinha)
- Água quente
Cortar o frango caipira pequeno (com cerca de 1,3 kg) pelas
juntas, deixando os miúdos separados – quando adquiridos inteiros, os miúdos,
pescoço, os pés e a cabeça do galináceo vêm embalados em um saquinho recheando
a ave. A carcaça separo para preparar caldos com legumes frescos (cebola,
salsão e cenoura). Os demais pedaços – com destaque para os pés e pescoço - são
temperados com tomilho, alho, azeite, folhas de loro, sal e alecrim, pimenta,
flores de manjericão despetaladas. As ervas são frescas, vindas da horta. Rego
o suco de um limão, incorporo em todos os pedaços e deixo descansar por, no
mínimo, 2h, coberto com papel filme, na geladeira, retirando 30 minutos antes
de iniciar o preparo. Depois, em uma panela de fundo grosso, rego um pouco mais
de azeite, aqueço, e disponho os pedaços, dando uma leve suada em cada naco para
que todos tenham direito ao azeite e as ervas. Dou uma chacoalhada na panela,
mas não me atrevo mais a mexer. Se o fizer, os nacos vão se desmanchar. Então,
aguente firme. Com uma colher de pau, depois de cerca de 15 minutos, levante
uma ou outra bordinha que cozer mais rapidamente. Se estiver dourado, pode
virar. Caso contrário, mantenha intacto. Logo após todos os pedaços estarem com
o lado oposto sendo caramelizados, agregue as cebolas, alhos e ervas restantes.
Mexa suavemente, deixe em go bem alto e polvilhe o açúcar é pouco, mas o
suficiente para caramelizar e manter intacto cada pedaço. Para que o açúcar não
queime, logo em seguida, regue umas gostas de água quente, tomando cuidado para
que não espirre em você. Nesse momento, o lume deve estar baixo.
Se optar por usar este frango como um acompanhamento de uma
polenta, vá regando água quente, sem deixar grudar. Depois de 40 minutos,
estará um autêntico frango de família; caso o destino seja a canja, jogue a
cenoura o arroz, cubra com água. Depois de 10 minutos, sirva com muito verde.