A vivência profunda com a cultura de um país, que não o de sua origem – ao
menos nessa vida -,
proporciona viagens rotineiras. Quantas vezes fecho os olhos ao som de uma canção italiana ou, ainda,
estou no mais absoluto silêncio, e me sinto lá. O sabor da
comida que provei; as tantas vielas por onde andei; as sementes dos legumes,temperos, pimentas... que plantei, colhi, cozinhei, servi e, com todos, saboreei.
O cheiro dos borgos vizinhos de onde o leite, carnes.... Eram trazidos. Os minutos em que - ‘na lida’, com o sol
a pino - parei para ouvir o badalar dos sinos ecoando em uníssono, provenientes
de dezenas de igrejas de vilarejos vizinhos, que, sem nem serem avistadas, emanavam
suas energias por entre as colinas, onde o olhar se perdia em meio ao verde. É
essa atmosfera que tento incorporar em cada refeição que elaboro e em cada
ingrediente que desvendo na cozinha.
O mundo pode estar, sim, na nossa cozinha. Basta aliar, ao ato de cozinhar, a pesquisa, seja
por meio da leitura e também da prova incansável do uso das ervas frescas, especiarias, ponto de
cocção ....
Depois sim, o nosso toque pessoal se torna o álibi para o
resultado perfeito, com
nossa marca registrada. E assim o é com receitas italianas, francesas, inglesas, portuguesas
e das mais diversas regiões do nosso Brasil.
A última investida foi com a torta Inglesa de carne. Após duas execuções, ao
lembrar do sabor, a vontade é de já prepara-la novamente.
A influência britânica sobre a
vida, a paisagem e a cultura do Brasil foi largamente estudada por GilbertoFreyre - , que define as relações entre a Grã-Bretanha e o Brasil ainda
semicolonial como "mais ou menos imperiais". E cita, entre os efeitos
da influência, “o terno branco, o chá, a cerveja e o uísque, o bife com
batatas, o pijama de dormir, o tênis e o futebol, a capa de borracha, os
piqueniques, o escotismo, o lanche e o sanduíche”.
Em minha opinião, no âmbito da
gastronomia, a cerveja é o ícone, e sem uma das versões dela, a torta inglesa
não seria a mesma, já que a carne, cortada em nacos grandes, após temperada com
especiarias, é cozida em cerveja, mas deve ser uma escura e de respeito.
Para
começar, aviso, o recheio dessa deve ser um ritual. Ingredientes
1,5 kg de peito de boi livre de toda
gordura e nervos, cortados em cubos grandes. Preserve os ossos para cozê-los
com a carne e legumes
2 cenouras picadas
em cubinhos
2 bulbos de alho
poró1 maço de salsinha fresca moída, inclusive com os talos
4 cebolas cortadas
grosseiramente
2 bulbos de salsão
bem picados
Dentes de alho em
finas lâminas. Gosto de colocar praticamente uma ‘cabeça’, com todos os dentes
de alho.
300 gramas de
ervilhas frescas
1 colher de Páprica picante
Cominho
Canela em pó
Canela em pó
Sal e pimenta do
reino
Especiarias para
temperar a carne
1 litro de caldo de
carne
1/2 litro de cerveja escura
1/2 litro de cerveja escura
4 colheres de
farinha de trigo para engrossar o recheio antes de dispor sobre a massa já esticada
2 colheres de sopa
de manteiga
Azeite de oliva
(para dourar cebola e alho juntamente com a manteiga
Massa folhada. No
caso, comprei massa folhada para pastel. Desta forma, a massa ficará bem fina,
e não predominará na torta, já que é adquirida fina, depois aberta no rolo, com
farinha de trigoModo de preparo
Recheio - após limpar a peça de peito de boi, cortá-la em cubos grandes para que marquem a presença com seu sabor delicado e também para que não ressequem durante o cozimento. Junto os ossos da peça, tempere com sal, pimenta do reino, cominho, canela e páprica picante. Reserve;
- Em panela de pressão grande aquecer o azeite e a manteiga. Murchar o alho, cebola e pimenta seca. Depois, agregar salsão picado finamente, os cubinhos de cenoura e cozer por mais alguns minutos em fogo baixo
- Agregar os cubos de carne temperados mais os ossos, cobrir com a cerveja e 50% do caldo de carne. Espere pegar pressão e cozinhe por cerca de 20 minutos;
- Abra a panela para conferir ponto do sal e textura da carne.
- Se ainda não estiver macia, coloque mais caldo de carne e finalize o cozimento com a panela destampada;
- quando sentir que está macia, sem estar se desmanchando, agregue a farinha de trigo dissolvida no caldo de carne, misture bem e cozinhe para que o sabor da farinha não predomine. após uns 5/6 minutos, agregue as ervilhas, que podem até estar congeladas.
- Na bancada coberta de farinha, abra a massa com rolo, esticando uniformemente.
- Passe manteiga em uma travessa, estique a massa deixando 60% dela para fora, que será a cobertura da torta. Distribua o recheio, dobre a massa, e molde as bordas. Bata a gema de um ovo, faça dois ou três cortes na massa para que o ar saia. com um pincel, espalhe a gema batida por toda a torta. e forno aquecido, ase por cerca de 20 minutos.
Gilberto Freyre
"As mangueiras
o telhado velho
o pátio branco
as sombras da tarde cansada
até o fantasma da judia rica
tudo esta à espera do romance começado
o telhado velho
o pátio branco
as sombras da tarde cansada
até o fantasma da judia rica
tudo esta à espera do romance começado
um dia sobre os tijolos soltos
a cadeira de balanço será o principal ruído
as mangueiras
o telhado
o pátio
as sombras
o fantasma da moça
tudo ouvirá em silêncio o ruído pequeno."