'Principessa' Frida admirando o mar, em junho deste ano. Compartilhou todos os momentos das minhas férias em Zimbros. 01/10/1995 RIO DE JANEIRO - Ontem fez quatro meses que perdi Mila. Fui ao armário onde guardo suas lembranças, mexi em papéis, o pedaço de tapete que ela roeu quando tinha cinco meses — era o único luxo da casa, comprado no mais fundo Oriente. O tapete acabou ficando para ela e foi nele que ela viveu seus últimos instantes. De um envelope caiu a foto, tirada em Varsóvia, a placa da Rua Mila, rua que não existe mais. Eu tinha ido a Polônia a trabalho, quis saber onde ficara o gueto que resistira aos nazistas. As autoridades daquele tempo não apreciavam a curiosidade ocidental a respeito de certos assuntos, mesmo assim me levaram a Rua Mila. Ela havia sido arrasada, casa por casa, pedra por pedra, pelos nazistas que massacraram o povo que ali vivia. Ao libertarem a cidade, os russos reconstruiram apenas o lado esquerdo, a fim de que não houvesse um número 18 naquele local — que se transformara no centro da resistência do gueto. Procurei o número 18. Não o encontrando, limitei-me a fotografar a placa azul da rua, numa parede cenográfica, pois ninguém parecia morar nela. Os russos têm fama de superticiosos, não iriam ressuscitar o endereço que tinha, atrás de si, um passado de luta e liberdade. Semanas depois, aqui no Rio, eu estava segurando essa foto para paginar uma crônica quando recebi uma cestinha de pão. Dentro dela, pão gordinho e quente, saído do forno, vinha aquela que seria minha companheira mais que amada. Não tinha nome, embora tivesse pedigree. Precisava dar um nome aquilo. Ainda era "aquilo". Logo seria aquela a quem eu mais amaria neste mundo. Eu segurava a foto, reparava o nome em letras brancas no fundo azul. De repente, vi que Mila era mais do que uma rua distante numa cidade que nada tinha a ver comigo. Coloquei minha mão em cima de sua cabecinha, ainda pouco maior do que uma bola de tênis. Chamei-a de Mila. E descobri como era macia aquela amiguinha que me chegava numa cesta de pão — pão quentinho que, nos 13 anos que se seguiram, alimentaria minha fome e aqueceria minha mão. |
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Frida...
Essa noite a pizza não teve o mesmo sabor. E, sinceramente, acho que nunca mais terá. Afinal, pela primeira vez em muitos anos, não tivemos que dividi-la com nossa querida companheira, parceira de todas as aventuras e receitas já postadas nesse blog, a mais que amada Frida. Partiu hoje a tarde, deixando uma saudade imensa, que jamais será preenchida por qualquer outro ser desta ou de outra vida. Durma em paz, Principessa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Fiquei tristíssimo com a notícia, e me lembrei de uma linda foto que temos juntos na cozinha do apartamento sa Sarutaiá...muita saudade
Valeu querido, lembrei muito de você ontem, ela adorava você. beijo, felipones
Queridos Felipe e Josi...fiquei sem acreditar...e pensando como será sem a querida Frida que com o seu jeito tranquilo de ser...mas voces tem muitas lembranças com ela, beijos
Haja coração...
Jô
Amigos, é uma dor aguda daquelas que doem e que não páram de doer nunca, mas a gente se acostuma com ela.
Vez em quando a gente se lembra e dá aquele vazio, mas nossa existência é isso: ciclos de vida e morte, existência e renovação.
Postar um comentário