finos filés de bife de patinho, batidos, salteados num fio de azeite mais um de vinagre. Depois, cebolas são douradas na mesma panela, com um pingo de molho inglês. No mais, pão francês crocante e queijo mozarela derretido.
Não é de hoje que sou chegada num
pão com bife. De criança, enquanto o pai defendia a zaga no Operário Pilarzinho
Sport Clube (na década de 70), fui merecedora do cargo de vendedora de fichas
da majestosa delícia. Eram dezenas de nacos finos de carne, que escorregavam
pela chapa quente, sempre regada por um fio de óleo mais um de vinagre.
Depois
de alguns anos, quando o pai não era mais o ‘destruidor’, apenas atuava nos
bastidores do Clube da suburbana, subi de cargo. Do alto de um engradado de
cerveja de madeira ajudava as lâminas de carne a selarem rapidamente para, em
seguida, preencherem um pão francês crocante.
A experiência me rendeu
habilidade para preparar um bife à perfeição. Já sabia que deveriam ser finos,
beeeeemmm batidos, já que assim era o pedido da mãe, quando nos pedia para
comprar ‘xxxxx dinheiro...R$, 10,00’ de bife, passados duas vezes na máquina. O
feitio era similar. A mãe aquecia a frigideira, repousava a carne transparente,
passava de um lado, de outro, cortava-os e distribuía nos pratos. Para
finalizar, cebolas fatiadas eram salteadas no mesmo recipiente. De lá para cá, no
pré-preparo, só agreguei o martelo de bater, já que as finas fatias solicitadas
no açougue ficaram a ‘ver navios’. Quando necessário, passo uma faca na
transversal, transformando um bife, em dois. Embrulho no papel filme e bato.
Bato. Bato. Questa è la magia. Depois, em temperatura ambiente, selo
rapidamente os bifes salpicados com pimenta do reino no fio de azeite e um
pingo de limão (por vezes, finalizo com um pingo de molho inglês). Depois,
salgo. O pão francês recebe uma bela fatia de queijo mozarela derretida na
chapa. No mais, é finalizar, quem sabe, com umas lâminas de tomate. É o pão com
bife destruidor!!!
Nesta tarde recordei as centenas
de vezes em que o pai me levou para pescar lambari – pequeno peixe d’água doce,
que se prolifera por todos os rios de nosso país. À época, eu só lembrava do
que a função resultaria: peixinhos dourados crocantes, fritos à perfeição, quepodíamos comer sem contar. Mas, juro, nunca esquecia que para termos a fartura
desejada à mesa, seguir as regras para capturar os peixinhos era (é) essencial.
Para tanto, a calma, o bom senso e a experiência (por menor que exista) têm que
prevalecer.
Encontrar a
curva do rio e a profundidade
ideais; água límpida – não considere que estar barrenta é empecilho. Apenas indicação
de que a pescaria pode não ser tão produtiva, já que voltarmos com uma média de
uma centena de exemplares costumava ser a média. Silêncio absoluto, o que torna
a pescaria de lambari um tanto quanto solitária. Bom, estes são alguns dos
pré-requisitos para uma boa pescaria de lambari, que só pode ser comemorada
após cada pescador deixar seu posto.
Fazendo um paralelo com a vida dos adultos, a do meu, do
seu, enfim, do nosso dia a dia, percebo que temos muito a resgatar dos
princípios que o pai me fazia seguir para capturar, delicadamente,
dezenas de lambaris. Não considero que nossa vida tenha que seguir regras, mas penso
que a repetição de atos, com o passar do tempo, ultrapassa os fatos. Então, encontrar um lugar ideal; ter paciência
– lógico que por vezes ela vai 'às favas'; estar ao lado de pessoas que respeitem
o silêncio de que você precisa para pescar os rápidos peixinhos. Enfim, pescar
lambari poderia ser tarefa apenas para adultos, e profissionais. Mas, se nos dermos conta, pode ser mais
leve seguindo os princípios que adotávamos para pescar lambaris; andar de
carrinho de rolimã; pilotar a monareta sem freio nas íngremes decidas do São
Lourenço – à época, sem asfalto; soltar pipas. ... E depois de gastar energia,
chegar em casa e comer arroz com os pequenos peixinhos fritos que, quando não
pescados pelo pai, eram adquiridos do tio Raimundo Lunardon, que ao lado da sua
fiel escudeira, dedicava horas de suas vida pescando-os. Depois,
vendia-os espalmados, em outro companheiro de vida, seu fusca amarelo. Esse só abandonou a tarefa de ser
profissional na arte de pescar lambaris no dia em se foi. Se pudesse ter um desejo para o amanhã seria o de passar o dia pescando lambari ao lado de meu pai (Carmelino Basso), que completa 70 anos neste 16 de julho. Parabéns, meu amado pai.