quarta-feira, 15 de julho de 2015

Pescar lambari é tarefa para profissional


Nesta tarde recordei as centenas de vezes em que o pai me levou para pescar lambari – pequeno peixe d’água doce, que se prolifera por todos os rios de nosso país. À época, eu só lembrava do que a função resultaria: peixinhos dourados crocantes, fritos à perfeição, quepodíamos comer sem contar. Mas, juro, nunca esquecia que para termos a fartura desejada à mesa, seguir as regras para capturar os peixinhos era (é) essencial. Para tanto, a calma, o bom senso e a experiência (por menor que exista) têm que prevalecer.
Encontrar a curva do rio e a profundidade ideais; água límpida – não considere que estar barrenta é empecilho. Apenas indicação de que a pescaria pode não ser tão produtiva, já que voltarmos com uma média de uma centena de exemplares costumava ser a média. Silêncio absoluto, o que torna a pescaria de lambari um tanto quanto solitária. Bom, estes são alguns dos pré-requisitos para uma boa pescaria de lambari, que só pode ser comemorada após cada pescador deixar seu posto.
Fazendo um paralelo com a vida dos adultos, a do meu, do seu, enfim, do nosso dia a dia, percebo que temos muito a resgatar dos princípios que o pai me fazia seguir para capturar, delicadamente, dezenas de lambaris. Não considero que nossa vida tenha que seguir regras, mas penso que a repetição de atos, com o passar do tempo, ultrapassa os fatos. Então, encontrar um lugar ideal; ter paciência – lógico que por vezes ela vai 'às favas'; estar ao lado de pessoas que respeitem o silêncio de que você precisa para pescar os rápidos peixinhos. Enfim, pescar lambari poderia ser tarefa apenas para adultos, e profissionais. Mas, se nos dermos conta, pode ser mais leve seguindo os princípios que adotávamos para pescar lambaris; andar de carrinho de rolimã; pilotar a monareta sem freio nas íngremes decidas do São Lourenço – à época, sem asfalto; soltar pipas. ... E depois de gastar energia, chegar em casa e comer arroz com os pequenos peixinhos fritos que, quando não pescados pelo pai, eram adquiridos do tio Raimundo Lunardon, que ao lado da sua fiel escudeira, dedicava horas de suas vida pescando-os. Depois, vendia-os espalmados, em outro companheiro de vida, seu fusca amarelo. Esse só abandonou a tarefa de ser profissional na arte de pescar lambaris no dia em se foi.
Se pudesse ter um desejo para o amanhã seria o de passar o dia pescando lambari ao lado de meu pai (Carmelino Basso), que completa 70 anos neste 16 de julho. Parabéns, meu amado pai. 

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