Enquanto conversava com o Pastifício, Dielson Schilipacke, 38, atende o telefone e descobre que uma escola de gastronomia, cliente de seu açougue, recebeu por engano orelhas de porco e não as bochechas solicitadas para a aula. Seu pai, Almir Schilipacke, 60, açougueiro desde os 13 anos de idade, corre para o freezer, corta as bochechas e chama um motoboy para entregar o pedido correto na escola. O fato ilustra a preocupação com os clientes da Casa de Carnes Pé de Boi, instalada no Mercado Municipal de Curitiba, desde 1963. Mas a história dessa família com as carnes é ainda mais antiga. O pai de Seu Almir era funcionário do Matadouro de Curitiba, que funcionou na cidade de 1899 até 1964. Trabalhou lá até se aposentar e seus filhos abriram um açougue, no então recém inaugurado Mercado. O tempo passou, seu Almir abriu seu próprio açougue no centro de Curitiba, mas acabou voltando ao antigo ponto onde começou. Hoje, pai e filho cuidam com muito esmero do melhor açougue da cidade. Lá possível encontrar carnes de boi, porco, carneiro, avestruz, coelho, jacaré, perdiz, pato, marreco, novilho precoce, entre outras. O local impressiona não apenas pela variedade de produtos, mas principalmente pela higiene, qualidade da carne e simpatia da dupla que comanda o espaço. Depois de preparar um pedaço de contrafilé ou bisteca de novilho precoce vai ser difícil você encarar um bife comprado no supermercado. Confira porque nesta entrevista com Dielson.
Desde quando vocês estão no ramo de carnes?
Meu avô foi funcionário do Matadouro Municipal, que ficava ali no Guabirotuba. Os irmãos do meu pai abriram o açougue aqui no Mercado e com 13, 14 anos, começou a trabalhar com eles. Desde então, nunca mais deixou de trabalhar com carnes. Eu me formei, trabalhei em bancos, mas também acabei parando aqui. Tá no sangue.
E o açougue sempre trabalhou com toda essa variedade?
Na verdade ampliamos o negócio, há quatro, cinco anos. Meu pai vendia alguma coisa diferente, como pato, mas sem a sofisticação que fazemos hoje. Percebemos que existia procura e resolvemos ampliar o leque de produtos, melhorarmos o que já tínhamos. Cada um tem uma estratégia, uma visão de negócio e a nossa é qualidade do começo ao fim
Algum chef conhecido compra carne aqui?
Nosso foco principal é o varejo, mas temos fornecido também para alguns restaurantes. Muitos chefes consagrados frequentam o mercado. O Junior Durski é nosso cliente, um cara muito bacana, que gosta de ajudar as pessoas que estão na cidade. Como nosso produto é de qualidade, fornecemos algumas carnes a ele. O Celso Freire também tem comprado frequentemente para alguns pratos servidos no Guega.
Qual a sua carne favorita?
Muitos não dão valor mas eu aprecio o coxão mole. É uma carne saborosa, que não precisa ser servida com o gosto de sangue, como o filé mignon. Não tem gordura e pode ser utilizado para bifes, picadinho, estrogonofe e ainda tem um ótimo custo. Gosto de carnes com molhos. Para carnes grelhadas, gosto do jeito mais simples, preparada apenas com o sal.
No meu carrinho não entra. Não tenho coragem, você se decepciona quando abre um pedaço a vácuo. Só o cheiro que vem quando abre a embalagem... E ainda tem surpresas no abrir. Uma gordura que você não viu, o começo de um corte diferente.
E quando é convidado para um churrasco, leva a carne?
No convívio íntimo, geralmente são meus clientes, então é tranquilo. Mas em churrascarias não me iludo mais. Picanha de churrascaria, para mim, é picanha de tolo. Pegam um pedaço de carne, enrolam em meia lua, espetam e servem. Fatiam como um papel, você não sente a maciez e nem o gosto. Picanha precisa ser cortada com a espessura de um dedo, dourada rapidamente dos dois lados, para ficar suculenta, macia ao mastigar. As de churrascaria muitas vezes são feitas com posta vermelha.
Já pensou em virar vegetariano?
Mas nem pensar. Na nossa família não tem ninguém que não gosta de carne. Como vegetariano seria um fracasso.
Um comentário:
Lindo blog! Parabéns!
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